terça-feira, 30 de julho de 2013

Hepatite C pode deixar de existir

Novas drogas prometem aumentar incrivelmente as chances de cura e fazem, pela primeira vez, os experts se perguntarem: será que essa doença vai desaparecer?

por Theo Ruprecht | design Fernanda Didini | fotos Alex Silva
Nos dias de hoje, os pacientes com hepatite C, uma infecção viral que vai destruindo o fígado aos poucos, apresentam mais ou menos 40% de chance de se livrar do problema. Isso após serem submetidos a quase um ano de tratamento com injeções semanais de interferon e cápsulas diárias de rivabirina - remédios que trazem efeitos colaterais pesados, como anemia, depressão, reações na pele e até queda de cabelo. Esse cenário, ainda bem, mudará por aqui a partir de março, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) começará a oferecer, a indivíduos com essa enfermidade em estágio avançado, dois novos medicamentos: o boceprevir e o telaprevir. "Usados em conjunto com a terapia convencional, eles quase dobram a probabilidade de cura da doença", calcula Marcelo Freitas, assessor técnico do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Isso, por si só, já seria motivo de comemoração para 1,5 milhão de brasileiros contaminados pelo vírus C (VHC). 

Mas as boas notícias não param por aí. Durante o Congresso da Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado, realizado no final de 2012, cientistas de vários centros de pesquisa ao redor do globo divulgaram dados preliminares sobre uma inovadora classe de fármacos, que deve chegar ao mercado nos próximos cinco anos. "Os resultados iniciais apontam uma taxa de cura que beira os 100%", destaca Flair Carrilho, gastroenterologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Esses antivirais, ministrados via oral, em muitos casos dispensarão o uso de interferon", completa o também gastroenterologista Edison Parise, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Hepatologia. Ou seja, além de extremamente eficazes, essas armas do futuro diminuiriam a necessidade de uma droga cheia de reações adversas. 

Os novos antivirais, ainda sem nome, miram a replicação do VHC. "Cada um age em uma região diferente do agente infeccioso. Com isso, a chance de ele resistir ao ataque e continuar se multiplicando é mínima", detalha Parise. Em outras palavras, a combinação dessas drogas cercaria o inimigo de tal forma que ele dificilmente sobreviveria. Aí, não teria como invadir o organismo de terceiros, o que, com o passar dos anos, implicaria menos gente com hepatite C. 

Só não se esqueça de que essas medicações estão em fase de testes e, no fim das contas, podem ser menos eficientes do que se imagina - ou, pior, talvez apresentem efeitos colaterais tão intensos que impeçam sua comercialização. "As taxas de sucesso obtidas em pesquisas às vezes diferem daquelas da vida real, na qual uma pessoa se esquece de tomar o remédio ou tem outro problema de saúde que eventualmente interfere no tratamento", lembra Roberto Focaccia, responsável pelo Departamento de Hepatites Virais da Sociedade Brasileira de Infectologia. 

"A esperança é que a hepatite C seja controlada e, sim, até desapareça. Mas, mesmo que tudo dê certo nos estudos, ela continuará a nos ameaçar por pelo menos mais 30 anos", especula Carrilho. Esse período, embora pareça longo, tem motivo de ser. Primeiro porque nada menos do que 170 milhões de indivíduos no mundo já contraíram a doença. E cuidar de todo esse pessoal vai demandar muito esforço e tempo. 

Segundo que de 3 a 4 milhões de casos são diagnosticados a cada ano - a transmissão ocorre por meio do contato com sangue infectado. Antes de 1993, um dos maiores meios de propagação no Brasil eram as transfusões, já que não existia controle sobre a presença do vírus nos doadores. Logo, ao receber líquido vermelho de outros, o sujeito, sem saber, corria o risco de adquirir um verdadeiro presente de grego. Com o surgimento de testes que flagram esse inimigo e a fiscalização rígida do sangue doado, essa forma de contágio passou a preocupar menos. 

"Hoje em dia, um grande perigo está em materiais cortantes não esterilizados", avisa Maria Lucia Ferraz, gastroenterologista da Universidade Federal de São Paulo. São as ferramentas das manicures, as agulhas usadas para fazer tatuagens e acupuntura, as seringas compartilhadas por usuários de drogas, os equipamentos dos dentistas. Enfim, utensílios que, quando higienizados de jeito inadequado, colocam o sangue de um desconhecido em contato com o que circula nas suas artérias. E para esclarecer: relações sexuais quase nunca transmitem a doença, porém é mais garantido usar camisinha. 

Outra dificuldade para vencer a hepatite C está no fato de que ela não costuma acarretar sintomas. Seus primeiros sinais, como perda de apetite, dores e náusea, geralmente aparecem décadas após a infecção, quando a cirrose ou o câncer já acometeram o fígado. Ou seja, é comum hospedar o vírus - e, então, tornar-se um foco de disseminação - sem ter conhecimento disso. Daí a importância de consultar especialistas e realizar exames de sangue que identifiquem a encrenca. Atitudes assim, junto com as novidades da ciência, podem fazer esse enorme problema de hoje se transformar em uma mera má lembrança no futuro. 

Câncer, outra consequência da hepatite C
A Organização Mundial de Gastroenterologia elegeu o carcinoma hepatocelular, um tipo de tumor sediado no fígado, como a prioridade a ser combatida em 2013. Esse câncer muitas vezes surge graças à cirrose ou a outras lesões ocasionadas pelo VHC. "Quando descoberto no começo, é curável. Caso contrário, fica bastante agressivo", aponta Carrilho. "Até por isso recomendamos que pacientes cirróticos se submetam a exames para detectá-lo a cada seis meses", arremata. 

Questão de saúde pública
O governo federal incentiva campanhas com o objetivo de divulgar informações sobre a hepatite C e para examinar a população. Se o diagnóstico confirma a presença da moléstia, basta visitar uma unidade do Sistema Único de Saúde (SUS) para receber o tratamento de graça. Desde 2010, a Organização Mundial da Saúde reconhece a data de 28 de julho como o Dia Mundial de Combate à Hepatite. "Usamos esses momentos para trazer dados recentes sobre a doença e ainda para mobilizar os estados e municípios contra a epidemia", afirma Marcelo Freitas, assessor técnico do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. 

O panorama atual
Os números mostram o tamanho do desafio que temos pela frente para vencer a hepatite C 
170 milhões de pessoas no mundo possuem o vírus C incubado no organismo. 

20% dos pacientes com hepatite C ou B, apenas isso, conheciam a doença antes do diagnóstico. 

3 a 4 milhões de indivíduos no mundo contraem o vírus responsável por essa encrenca a cada ano. 

1,5 milhão de brasileiros sofrem com a enfermidade e suas consequências para a saúde. 

27% dos casos de cirrose no mundo dão as caras graças à hepatite C. 

25% dos cânceres que se originam no fígado vêm de danos provocados pelo vírus. 

63% dos usuários de drogas injetáveis estão contaminados. 

Fontes: Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde, The Lancet e Economist Intelligence Unit 

Pelo fim da multiplicação viral
Veja como os medicamentos que estão por vir contra-atacam o vírus da hepatite C 
1. Invasão ao fígado Assim que entra no corpo do hospedeiro, o VHC viaja pela corrente sanguínea até o fígado. Lá, infiltra-se nos hepatócitos, células desse órgão, e se fixa no retículo endoplasmático, estrutura ligada ao núcleo celular. 

2. Replicação acelerada Uma vez ali, o vírus utiliza a maquinaria da célula para se reproduzir em larga escala. Então, a geração seguinte do minúsculo malfeitor invade outros hepatócitos, repetindo o processo e causando estragos por onde passa. 

3. Oponente sitiado Os fármacos se conectam em diversas partes do VHC e, assim, inibem a formação de mais vírus. Sem isso, a infecção não avança e, em determinado momento, é exterminada do organismo.

ilustração O.Silva

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Candidíase - Você sabe como tratar este mal?


A Candidíase é muito comum entre as mulheres. Saiba como se prevenir e tratar a doençapor Gabriela Queiroz | foto Thinkstock
A candidíase é uma infecção provocada pelo fungo Cândida Albicans e é um grande mal entre as mulheres. "Pelo menos uma vez na vida 75% a 80% das mulheres terá a candidíase", afirma Poliani Prizmic, ginecologista e obstetra do hospital e maternidade São Luiz.

A candidíase não é considerada uma DST, já que, no nosso corpo existe o fungo adormecido. Nas mulheres dentro da flora vaginal e intestinal, e nos homens em forma de esporos no pênis. Porém, dentre as formas de proliferação, uma delas é o ato sexual, em que o homem ou a mulher, podem vir a contaminar o parceiro. Por isso, as mulheres com vida sexual ativa são mais propensas à doença, "mesmo que a relação seja praticada com camisinha, o pênis faz um microtrauma na parede da vagina, assim a mulher fica mais predisposta à doença", explica a ginecologista.

Mas, a doença conta com outras propensões. "A candidíase pode estar associada à baixa imunidade, uso de antibióticos, anticoncepcionais, corticoides, e até mesmo à alimentação", explica Poliniani. Além desses fatores, há o famoso biquíni molhado. "No verão a candidíase é mais comum, pois a temperatura está mais alta e utiliza-se mais biquíni/maiô do tipo Lycra", diz Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do hospital Albert Einstein.

No entanto, na maioria das vezes, explicam os ginecologistas, a crise desse fenômeno está, geralmente, ligada aos casos de baixa imunidade, além de uma dieta rica em farinha branca e açúcar, que acabam por modificar o pH da vagina, o deixando mais ácido e ideal para a proliferação da Cândida Albicans.

Sintomas e tratamentos 
A doença é uma das queixas mais frequentes dentro dos consultórios ginecológicos, e conta com sintomas que incomodam. Nas mulheres a candidíase aparece com coceira na vagina e no canal vaginal, corrimento, dores para urinar e também nas relações sexuais. Nos homens, os sintomas mudam um pouco, "aparecem manchinhas vermelhas, pode ocorrer inchaço, aparecer pontos vermelhos e coceira, assim como nas mulheres", afirma a ginecologista e obstetra do hospital e maternidade São Luiz Poliani Prizmic. Segundo a ginecologista, o melhor diagnóstico é o clínico, dentro do consultório.

Para o tratamento, é feito o uso de remédio antifúngico oral e creme vaginal, por mais ou menos uma semana. Além de, "evitar tecidos que aumentem a temperatura local como do tipo Lycra e roupas apertadas, e até mesmo dormir sem calcinha pode ajudar a melhor ventilação local", afirma o ginecologista e obstetra do hospital Albert Einstein Eduardo Zlotnik.

Para complementar, segundo Poliani a alimentação correta e nutritiva é muito importante para que a cura seja alcançada e se evite a reincidência da doença. Pois, sistema imunológico forte não abre espaço para a candidíase.

Alternativa 
Em entrevista à revista BOA FORMA o ginecologista José Bento, dos hospitais Albert Einstein e São Luiz, afirmou que antes de as pessoas começarem o tratamento por remédios, seria interessante investir primeiro em mudanças nos hábitos alimentares.

O ginecologista afirma que restringir os doces e carboidratos da dieta do dia a dia pode atuar diretamente na candidíase. "O açúcar altera o pH da vagina de modo a favorecer a proliferação dos fungos", afirma José Bento. Outra mudança alimentar proposta pelo médico é a introdução na cardápio de alimentos com ação antifúngica. São eles: o alho, o alecrim, a cebola e o orégano.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Colágeno: entenda o que é e esclareça suas dúvidas

Saiba quais são as responsabilidades dessa proteína produzida pelo nosso organismo

por Rita Albuquerque | foto Thinkstock
Para entender o que é o colágeno, apalpe as suas orelhas ou a pontinha do nariz e note o quão maleáveis e, ao mesmo tempo, resistentes eles são. "A função dessa proteína de origem animal é dar firmeza à pele, às cartilagens e, em geral, às estruturas do nosso corpo que não precisam da sustentação dos ossos, mas, sim, de um suporte", esclarece o médico da Associação Brasileira de Nutrologia, Carlos Alberto Nogueira de Almeida.

O nutrólogo explica que a ingestão de determinadas fontes para a produção de colágeno, caso das carnes vermelhas e brancas, são válidas até certo ponto. Segundo ele, o processo pode ser comparado ao de uma fábrica: cada pedacinho dessa matéria-prima ingerida à mesa é degradado no processo digestivo para então formar os aminoácidos, uma fração mais sintetizada da proteína. "Nessa indústria, eles seriam os tijolinhos que formam a estrutura da qual precisamos naquele momento", explica a nutricionista do Hospital São Camilo, Marisa Resende Coutinho.

Para esclarecer, as carnes consumidas estimulam a produção de colágeno, mas não cumprem necessariamente o papel de formá-lo. Se o corpo não precisa dessa proteína, os aminoácidos se encarregam de resolver outro problema com o que foi absorvido. "O leigo acha que tudo o que comemos fica daquele jeito depois de ingerido. Leite, ovos e até suplementos de colágeno são recebidos da mesma forma. O fígado recombina isso para o que precisar", completa Nogueira de Almeida.

A rigor, a carência de colágeno pode ocorrer em doenças muito graves. Apesar disso, fatores comuns, como a ausência de carnes no prato, podem ser limitantes na produção dessa proteína. "É o caso de vegetarianos que não fazem boas combinações, como macarrão e lentilha, arroz e feijão", alerta Nogueira de Almeida.

Vale lembrar que, a partir dos 30 anos de idade, há uma queda gradual no processo de produção de colágeno. "Ele vai sendo substituído por outro tecido, menos elástico e mais fibroso. Daí, percebemos a flacidez, as rugas, a perda dos cabelos e as unhas fracas", detalha Marisa. Ainda segundo a nutricionista, os radicais livres que o organismo luta para combater durante os períodos de estresse também prejudicam o funcionamento desta indústria.

As articulações também podem sofrer as consequências da falta de colágeno, como aponta Nadia Brito, nutricionista do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas. "A cartilagem articular, presente entre as nossas articulações, também pode apresentar problemas em seu funcionamento", indica.

No caso dos suplementos, o ideal é que a versão em pó seja utilizada, já que as cápsulas não comportam a quantidade de colágeno recomendada por dia, isto é, 10 gramas. "A indicação deve ser feita por um profissional habilitado, de acordo com a necessidade da pessoa assistida", orienta Nadia. Quanto à famosa referência à gelatina, Nogueira de Almeida revela: "ela possui cerca de 1% de proteína, que, no caso, é o colágeno. Essa quantidade é muito baixa e está longe de ser a melhor opção".